Embora a toxina botulínica tenha surgido em 1973, quando o Dr. Edward J. Schnatz começou a empregá-la no tratamento não cirúrgico do estrabismo, ela só ganhou notoriedade mais tarde, em 1993, quando o casal de médicos canadenses Carruthers mostrou ao mundo que a mesma substância era capaz de minimizar rugas na região da testa e dos olhos (os chamados pés-de-galinha). Daí para frente, sua fama correu. Verdade que muitas mulheres se empolgaram com a promessa de juventude prolongada e exageraram na dose, contribuindo para o surgimento de uma geração sem expressão, com sobrancelha empinada (muitas vezes com ar diabólico) e testa com aparência de passada a ferro. Atualmente, por conta de materiais mais modernos e técnicas mais desenvolvidas, é possível conseguir um resultado natural (leia quadro). 'Hoje, o conceito que buscamos com a aplicação da toxina é eliminar as rugas, suavizar a expressão, deixar a aparência rejuvenescida sem exageros, e, principalmente, oferecer resultados personalizados', diz o dermatologista João Carlos Pereira, de São José do Rio Preto (SP). Com os avanços, a substância também vem ganhando novas funções, como eliminar as rugas na região do decote, deixar o nariz mais arrebitado, o olhar mais sedutor, o sorriso mais bonito. Nariz empinado Seu sonho de consumo é ter o nariz arrebitado? Para realizar esse desejo, basta aplicar toxina botulínica em um ponto na base. 'Mesmo pacientes jovens ou que passaram por cirurgia plástica podem fazer o procedimento', diz o dermatologista Otávio Macedo, de São Paulo. 'Outra possibilidade, para quem acredita ter as asas do nariz muito abertas, é fazer uma aplicação de pequena quantidade nessa região, para que fique menos exuberante', diz Ligia Kogos, de São Paulo. E não é só. De acordo com a dermatologista Bhertha Miyuki Tamura, há pontos novos de aplicação também nas laterais do nariz, para suavizar rugas que surgem em sorrisos muito escancarados. Colo à prova de decote Outra peripécia que a toxina é capaz de realizar é alisar as rugas entre os seios, que não só diminuem o impacto do decote como também adicionam alguns anos à aparência. 'Tenho conseguido excelentes resultados com o procedimento nesse caso', diz a dermatologista Christiana Monton, de São Paulo. Com cerca de 15 picadas superficiais, a técnica consegue relaxar as linhas mais discretas, que nascem na área V do colo. Segundo o dermatologista Nuno Osório, de São Paulo, o procedimento usa uma quantidade mais diluída da toxina, que atua em uma micromusculatura na região. 'Em peles com fotoenvelhecimento considerável, o resultado não é tão satisfatório', alerta. Olhar mais sedutor Boa parte das mulheres sabe tirar proveito do delineador e dos truques do lápis para aumentar os olhos. Ainda assim, muitas vão adorar saber que os especialistas descobriram pontos novos de aplicação da toxina botulínica, que podem deixar o olhar aceso e sensual por até seis meses (tempo médio de duração do efeito), sem precisar do auxílio da maquiagem. 'Aplica-se uma quantidade mínima da substância em dois pontos, um na pálpebra superior, para elevá-la sutilmente; e outro na inferior, para abaixá-la. Resultado: os olhos abrem e se destacam', diz João Carlos Pereira. A técnica tem feito sucesso tanto entre as orientais quanto entre as ocidentais que reclamam de ter o olhar caído. A novidade não é aconselhável para quem já fez blefaroplastia (cirurgia que corrige as pálpebras caídas). 'Acontece que, com a redução da pele das pálpebras, os olhos também ficam mais abertos. Se usarmos a toxina, eles podem ficar exageradamente expostos, mais secos e irritados', afirma o médico.
Panturrilhas redesenhadas Mulheres que desejam reduzir a circunferência da panturrilha também estão recorrendo à toxina botulínica. Ela é injetada em cerca de 10 pontos, em um músculo da região denominado gastroctêmio. Após uma semana, a chamada batata da perna começa a encolher. O procedimento não deixa cicatrizes, mas o resultado não é lá muito notável. É uma boa opção para quem procura um efeito temporário ou uma diminuição discreta das panturrilhas. Como a área a ser tratada é maior que as regiões faciais comumente trabalhadas, a quantidade de substância também aumenta e, com ela, o preço do procedimento. No Brasil, essa técnica ainda é pouco conhecida, mas, nos Estados Unidos e principalmente na Ásia, há estudos comprovando sua eficácia. Sorriso repaginado Até pouco tempo atrás, quem quisesse tratar o sorriso gengival tinha que tomar anestesia geral e passar por uma cirurgia onde o osso da maxila era serrado para retirar de dois a quatro milímetros de altura da gengiva. O procedimento ainda é muito usado, mas não é mais a única opção para dar cabo do incômodo. Atualmente, é possível reduzir o sorriso gengival aplicando toxina botulínica em dois pontos na região entre nariz e boca, próximos às narinas. 'A intenção é paralisar o chamado elevador do lábio', diz Ligia Kogos. 'Apesar de o efeito durar de 4 a 5 meses, tenho observado no meu consultório que, em alguns casos, o músculo parece se adaptar e o inconveniente não retorna', afirma. Sobrancelhas arqueadas e naturais Antes, os médicos aplicavam a toxina botulínica de forma mais padronizada, sem levar em conta as diferenças anatômicas de cada paciente. Por conta disso, muitas vezes o resultado ficava artificial e deixava a mulher com cara de madrasta de desenho animado. Agora, sua utilização não segue tantos padrões e os profissionais estão cada vez mais atentos às particularidades de cada pessoa. Para arquear as sobrancelhas, a substância é injetada em alguns pontos na parte superior, nas extremidades, bem no centro e na glabela. Tudo para promover a elevação de toda a região frontal. 'Dessa forma, a testa fica mais lisa, as linhas próximas ao cabelo mantêm seu movimento natural, as sobrancelhas se elevam uniformemente e, consequentemente, as pálpebras superiores ganham um up', afirma o dermatologista João Carlos Pereira. Lifting sem cirurgia Uma das técnicas mais apreciadas no 67o Encontro Anual da Academia Americana de Dermatologia, que aconteceu este ano nos Estados Unidos, foi a aplicação da toxina botulínica em toda a face, para levantá-la, como num lifting sem cirurgia. 'A ideia é fazer não só as aplicações intramusculares tradicionais, mas também em certos músculos com fibras que se mesclam com a pele', diz Otávio Macedo. Ou seja, ao relaxar um grupo de músculos que se mescla com a pele, outros que não receberam a toxina, como reação, levantam. Para que o resultado seja notado em todo o rosto, o médico explica que a substância é aplicada em pilares de sustentação, como no pescoço (desde a mandíbula até a saboneteira), na lateral da face, no queixo, nos cantos da boca, na glabela (entre as sobrancelhas) e na área pré-auricular (perto das orelhas). 'A técnica também define a mandíbula, um traço marcante que confere jovialidade à face', diz Otávio Macedo. O especialista não indica o procedimento para quem tem flacidez exagerada no pescoço. O efeito de cada sessão dura em torno de seis meses. Discrição é tudo Antes de se entregar às agulhas, confira as dicas de profissionais da área para conseguir um resultado natural • Procure um profissional renomado, especialista em dermatologia ou cirurgia plástica, e não tenha vergonha de pedir para conversar com outros pacientes. Essa é uma forma segura de saber se os resultados são satisfatórios. • Uma aplicação mal feita não causa só assimetria, mas, dependendo do local da aplicação, também pode causar dificuldades para se pronunciar determinadas palavras, assobiar e até tocar instrumentos de sopro. • Hoje em dia, as aplicações são personalizadas e cada caso é estudado com cuidado. Os profissionais tendem a aplicar menos toxina e até conservar alguns movimentos naturais. Por isso, não teime com o seu médico quando ele quiser negociar os lugares a serem suavizados. • Não tenha medo de associar a toxina botulínica ao preenchimento. Às vezes, essa combinação é necessária e contribui para um resultado mais global e natural. Cuidados logo após a aplicação • Evite deitar-se nas próximas quatro horas, pois pode atrapalhar a distribuição da toxina na pele. • Não faça massagens, limpeza de pele e evite expressões faciais exageradas pelas próximas 24 horas. • O ideal é adiar a ida à academia até o dia seguinte, mas, se não for possível, espere no mínimo seis horas antes de começar a suar o top e levantar halteres. • Respeite o intervalo de pelo menos quatro meses entre as aplicações, senão pode criar o chamado efeito vacina, quando o organismo produz anticorpos contra a própria toxina e ela perde o efeito.
* Colaborou Sandra Hirata Foto: Paul Bradbury (gettyimages) |
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